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São Paulo, São Paulo
Psicóloga, mestre e doutora em Ciências Médicas pela UNICAMP. Pró-reitora Acadêmica da Universidade Anhembi Morumbi. Pesquisadora PQ CNPq e FAPESP. Meu curriculo Lattes.

domingo, 11 de abril de 2010

Sobre a necessidade de recursos para dar uma boa aula

Em minha primeira postagem coloquei uma dúvida séria a respeito do que é mais importante a um professor do ensino superior hoje: atualização em recursos tecnológicos ou capacidade e conhecimento da disciplina ou conteúdos ministrados.


Pois bem...tive uma experiência na semana que passou muito interessante. Participei de um Fórum da HSM com renomados profissionais cuja proposta era falar sobre Gestão e Liderança. Ao olhar o material a ser apresentado tentei identificar por meio da síntese disponibilizada qual seria a melhor das palestras que teria oportunidade de ouvir.

Achei que uma se destacava, pois os slides e o material eram impecáveis...atraentes e com idéias incríveis. Isso me levava então, a crer que essa seria “a conferência”...porque ninguém capaz de preparar tão cuidadosamente seu material seria capaz de uma apresentação mediana...ela deveria ser no mínimo....o máximo.

Os demais materiais não me chamaram a atenção, pois eram apenas resenhas de livros escritos pelas estrelas dos dois dias que eu teria pela frente. Confesso que ao ouvir o conferencista do tal material, preparado com cuidado e técnica fiquei profundamente decepcionada...não empolgava nem com a forma de falar e nem com o conteúdo...

No segundo dia no período da tarde iniciaria mais uma conferência dividida em duas sessões cuja proposta do conferencista era falar sobre Liderança e Execução. Ao iniciar a apresentação fiquei um pouco assustada, pois o conferencista ligou um retroprojetor e eu vi projetada na tela uma transparência daquelas bem antigas na qual ele escreveu alguns itens com caneta apropriada.

A conferência teve início com aquele material jurássico e que tinha causado certa indisposição de minha parte. Os ouvintes foram experimentando a maravilha de ouvir quem sabe o que dizer e como dizer. Um professor de altíssimo nível e capaz de fazer com que aquela imensa platéia não perdesse um detalhe daquilo que explicava. Continuava a escrever na transparência, mas era preciso nas informações. Fechava cada ponto e apenas avançava à medida que esgotava e sintetizava o ponto anterior.

Andava pela platéia e fazia com que as pessoas participassem, criava momentos de descontração e de motivação para o conteúdo a ser apresentado em seguida. Enfim, deu um verdadeiro show de didática e boa prática docente....Sim Ram Charan, esse era seu nome, era o máximo de apresentação. Esse reconhecido consultor de negócios e autor de 13 best-sellers, além de responsável pelo coaching dos mais bem-sucedidos CEOs do mundo era tudo o que eu precisava ver para crer que recurso não basta...

Aquele senhor, professor experiente, e em minha opinião, exemplo de conduta de como se deve dar uma aula...com profundo conhecimento do que se diz e experiência incontestável... Ele conseguiu a atenção e admiração de seus ouvintes, durante uma tarde toda sem utilizar um só recurso tecnológico diferente de uma caneta e transparência.

terça-feira, 30 de março de 2010

ENADE: a que se propõe avaliar e o que de fato avalia

O Exame Nacional de Cursos (ENADE) foi proposto para preencher as lacunas deixadas por uma avaliação que perdurou no ensino superior de 1995 até 2003. Alvo de muitas críticas por parte dos acadêmicos e das IES, o Provão sobreviveu por oito anos com a marca de ser um instrumento de avaliação de extrema simplicidade e incapaz de retratar o que de fato era feito na formação de estudantes do ensino superior.


Sua substituição em 2004 deu-se não apenas por outro instrumento de avaliação do desempenho dos alunos, mas por um sistema de avaliação, o SINAES, que pela sua amplidão deveria ser capaz de corrigir os equívocos gerados pela utilização do Provão. Seria trienal e o desempenho dos alunos apenas representaria uma parte da avaliação. Mas o que de fato mudou desde 2004?

É possível dizer-se que pouco ou quase nada mudou desde a implantação do ENADE. Parece que a questão foi apenas semântica e política. Com têm sido aproveitados os resultados do ENADE? Como esses resultados têm auxiliado as IES a melhorar a qualidade de formação de seus estudantes? Como os resultados são “lidos” pela sociedade?

O que se apura ao final de cada avaliação é que a cada ano que se passa continua-se observando um resultado isolado do desempenho dos alunos. A avaliação conjunta alunos-curso-instituição não se materializou. E por esse motivo aumenta o número de ações que visam apenas permitir que os alunos sejam bem sucedidos no exame. Criam-se cursos e cursos para que esse bom desempenho seja garantido e dessa forma não apenas os currículos abrem espaços para aulas de reforço, como forma-se uma indústria paralela de preparo de estudantes para ingresso na profissão. Exemplo disso são os cursos de preparo para o exame de residência médica e de ordem dos advogados. Cobram caro e funcionam à margem das IES, mas se constituem cada dia mais num mal necessário.

A que de fato deve servir uma avaliação? Muito e mais a uma possibilidade de correção de rumos, de reavaliação e revisão de estratégias do que transformar-se num ranking, cujos primeiros lugares já são conhecidos antes que ele se concretize. O que de fato significa dizer que um determinado curso teve nota 3? Significa que o desempenho do curso é regular? Que seus alunos têm potencial médio de ter sucesso profissional? Que a instituição cumpre de forma mediana o seu papel de formação?Notas e conceitos

Infelizmente tanto o Provão quanto o ENADE trazem para as IES mais dúvidas do que certezas. Como de fato medir o trabalho realizado em cada curso? Como separar a influência que o background de cada aluno tem sobre a formação oferecida? Como ter clareza do quanto a formação oferecida melhora a capacidade do aluno que ingressa no ensino superior com falhas oriundas de uma formação educacional básica deficiente? Como impedir que resultados tão importantes inviabilizem o trabalho sério de muitas equipes acadêmicas?

É urgente e necessário que todo o processo de formação dos alunos seja considerado. Que as IES tenham condições de redirecionar as propostas pedagógicas em benefício de uma formação que garanta condições de sucesso a seus alunos, pessoal e profissionalmente. Que cada curso avaliado conheça de verdade o que deve fazer em prol da qualidade de ensino. Essa foi a promessa feita na implantação do SINAES. Pena que não passou de uma promessa...

segunda-feira, 29 de março de 2010

Crescimento de alunos no Ensino Superior: real, mas ainda insuficiente

Dados da Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) apontam para um grande aumento no número de jovens com idade entre 18 e 24 anos no ensino superior no Brasil. Apesar de sermos reconhecidos internacionalmente pela taxa de analfabetismo que chega a 11% e pelos baixos investimentos em Educação parece que o cenário começa a dar sinais de positividade.

Em dez anos (1998 a 2008) o percentual de alunos cursando Ensino Superior no Brasil dobrou e atingiu 13.9%. Da mesma forma o número de estudantes com pelo menos 11 anos de estudo nessa faixa etária também dobrou e chegou em 36,8%. Apesar desse percentual ainda nos colocar muito distantes dos observados em países desenvolvidos que chegam a 80, a proposta do Plano Nacional de Educação é de que cheguemos a 30% em 2011. Sem dúvida, cumprir essa meta é um grande desafio do Ministério da Educação e muito deverá ser feito ainda, não apenas no ensino superior, mas na educação básica.

Entre as principais causas que justificam os progressos citados destacam-se a expansão do número de Instituições de Ensino Superior (IES), aumento médio de renda dos trabalhadores mais evidente a partir de 2004, instituição de política para financiamento estudantil (FIES) e ainda programa de bolsas parciais e integrais de estudo para o ensino superior (PROUNI).

O Programa Universidade para todos (PROUNI) foi criado em 2004 e teve início em 2005 e tem garantido acesso a milhares de estudantes impossibilitados de custear seus estudos às IES privadas. Pode ser um programa cuja principal missão é garantir o acesso de estudantes ao ensino superior e tem conseguido relativo sucesso, apesar de um grande número de vagas permanecerem sem preenchimento em muitas IES credenciadas.

O maior acesso ao ensino superior tem modificado a correlação existente entre nível de renda e acesso à universidade, apresentada pelo IBGE em 2004 (Pnad). A análise de que a maioria dos estudantes de baixa renda tinha seu acesso restrito a universidades públicas não é mais verdadeira. O acesso ao curso de Medicina é um grande exemplo disso. Em escolas privadas tem custo muito elevado e era proibitivo aos estudantes de baixa renda e hoje deixou de ser privilégio para estudantes mais abastados.

O PROUNI tem colaborado também para a melhoria e manutenção de qualidade das IES. Para ter asseguradas as isenções fiscais oferecidas pelo governo, as IES têm que garantir um bom desempenho de seus cursos. Isso significa que instituições com duas avaliações consecutivas ruins e que classifiquem cursos de baixa qualidade (notas iguais a 1 e 2) serão retiradas do programa.

Avançamos, sem dúvida, mas ainda estamos muito aquém do patamar necessário para garantir respeito internacional e termos orgulho de nossos índices educacionais. Para cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação é preciso mais do que garantir acesso ao ensino superior, é preciso melhorar o ensino fundamental e médio, é preciso que se criem políticas que defendam o ensino de qualidade na base...

domingo, 28 de março de 2010

A que vim......

O inicio das postagens desse blog marca uma época da minha vida que sinto uma imensa necessidade de produzir... de discutir e de escrever. Espero que essa produção sirva, de fato, de reflexão a muitas pessoas que como eu, se dedicam ao ensino superior.


Em meu caminho dos últimos anos, dedicada à gestão educacional no ensino superior, tenho encontrado muitas incertezas...desde aquela referentes ao tipo de formação a ser dada a estudantes para as carreiras escolhidas até aquelas referentes a como, quanto e de que forma devemos nos preocupar com a formação continuada dos docentes que se ocupam da formação desses estudantes....

Vivemos uma época de novidades constantes...de redes sociais ativas e do comportamento de estudantes que chegam à universidade e já não pertencem mais à famosa e polêmica geração Y. Geração de qual tanto se falou....das exigências extremas, de estudantes que sabiam o que queriam, que apresentava um perfil tecnológico atualizadíssimo e da prosperidade econômica conseguida precocemente.

Pois bem, hoje nossos estudantes já não pertencem à geração Y... vão além....pertencem à geração da informação....das últimas informações...são plugados no mundo....nas relações virtuais. Adeptos das imagens preferem vídeos a textos ou livros. Querem tudo pronto....consumo rápido...não gostam de refletir...preferem as sínteses....basta que saibam das últimas notícias. E o conhecimento? Como chegam a ele? E o docente? Como pode ou deve ensinar esse estudante? O docente deve ensinar? Deve facilitar? Será que ele deve estar super atualizado e conhecer tudo das novas tecnologias de ensino/aprendizagem? Isso basta?

Essas e outras questões serão aqui apresentadas como reflexão do dia a dia. Daquilo que percebo dos docentes e estudantes que buscam o conhecimento. Espero que esse espaço se constitua num repositório muito mais de dúvidas do que de certezas porque assim deve ser a vida do docente e do pesquisador...das dúvidas que ele tem...não das que responde. Isso faz com que tenhamos força e energia para avançar sempre...